PERDÃO
O ressentimento é uma luta emocional com
algum acontecimento do passado que não pode ser alterado, consequentemente, a
manutenção do ressentimento é inútil, pois não muda nada. Além disso, implica
deixar que outros dirijam nossa vida, pois permite que algo que fizeram lá
atrás continue nos perturbando ainda hoje. Também é necessário que se aprenda a
perdoar nossos semelhantes, considerando que são tão falíveis quanto nós. Se o
alcoólico cometeu erros, os outros também podem ter cometido. E ninguém pode
querer ser perdoado se não consegue perdoar. Será mais fácil perdoar se a gente
compreender que muitas pessoas que aparentam ser ou até foram grosseiras e
desagradáveis, na maioria das vezes procederam assim como mecanismo de defesa,
tentando se proteger; tais atitudes indicam fraqueza e não força. Se eu
conseguir tratar essas pessoas com cortesia e bondade haverá admiração e
gratidão por parte delas, pois na realidade elas são muito carentes de afeto;
há muitas feridas em suas almas e esta é a razão de tais atitudes.
Não nos esqueçamos de que a mania de falar
mal dos outros é mera decorrência de um sentimento de inferioridade unido a um
desejo de superioridade. Diminuindo os outros, as pessoas têm a ilusão de aumentar
seu próprio tamanho. Toda maledicência é confissão pública de inferioridade, fraqueza
e raquitismo espiritual, exacerbada pelo desejo de uma superioridade que não possuem
nem tem condições de possuir.
Quem consegue compreender isso consegue
também deixar de se ressentir com a maioria das coisas. O certo é procurar
evoluir sem se comparar com nada e com ninguém. Quem é superior quer servir,
que é um comportamento ativo, e quem é inferior quer ser servido, que é um procedimento
passivo. Da mesma forma, quem perdoa demonstra ser forte e sadio, aceitando a
si mesmo como é. Deus me deu o livre-arbítrio e, conhecendo perfeitamente como
funciona meu cérebro e minha natureza, me deu também os ensinamentos
necessários para que me sinta bem e feliz. Não permito que nada perturbe isso.
Ressentimentos, raivas, remorsos ou outras coisas negativas não podem tomar
conta de mim.
Se tivermos ressentimento de alguém seria
bom analisarmos detidamente o fato, com isenção de ânimo e depois perdoar,
esquecer. Se houver possibilidade de conversar com essa pessoa sobre o assunto,
convém falarmos com franqueza e sinceridade, procurando com boa vontade saber
suas razões. Talvez assim possamos readquirir uma amizade, ou pelo menos resolveremos
o assunto de vez, eliminando o ressentimento que nos incomoda. Não é tão difícil
quanto aparenta ser. Os que tentaram se surpreenderam. Uma vez feita a relação
das pessoas e dos danos, assim como reexaminados os fatos com a mesma técnica
empregada no 4º Passo, nós, alcoólicos, saberemos exatamente a quem devemos
pedir perdão e fazer reparações. Não posso e não devo me acomodar às
circunstâncias da vida. Não posso esperar para perdoar. Tem que ser já. Preciso
estar sempre totalmente livre para seguir de imediato, sem tardanças, novos
caminhos que surgem, sem ter que perder tempo para me desembaraçar de coisas
das quais já podia ter me libertado muito antes e que por causa da morosidade
perturbam meu crescimento. Entrar em ação o mais rápido possível: perdoar.
L.D./SP Vivência n° 98 –
Novembro/Dezembro 2005
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